Exemplo de vida de José Alencar


Aos 78 anos, o vice-presidente José Alencar passou por mais de 15 cirurgias, algumas bastante delicadas. Já sofreu intervenções no coração e teve que extrair órgãos e tecidos comprometidos pelo câncer, doença contra a qual luta desde 1997, há mais de 12 anos.

Em 2006, descobriu nas costas um sarcoma, uma variação do câncer que atinge músculos, gorduras e nervos. A situação foi considerada grave pelos especialistas que acompanham sua saúde, entre os quais estão alguns dos principais médicos do Brasil.
Quatro anos depois, Alencar está longe de se mostrar combalido ou cansado. Ao contrário. Vive o final de seu mandato como vice-presidente em meio a homenagens e articulações políticas. Influente entre empresários e políticos da situação e da oposição, auxilia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no complexo jogo pré-eleitoral enquanto traça metas pessoais que nada têm a ver com as de um homem com a saúde debilitada.

A cirurgia (Em 02/2009)

A cirurgia, considerada de alta complexidade pelos médicos, é a mais delicada realizada nos mais de dez anos em que José Alencar luta contra o câncer.

Durante o procedimento, foram retirados nove tumores. Para remover o maior deles, com 12 centímetros de diâmetro, foi preciso remover também parte dos intestinos grosso e delgado. Foi necessário ainda retirar dois terços do canal que liga o rim esquerdo à bexiga; os médicos usaram parte do intestino para reconstruir o canal.
Também foram removidos pelos menos outros oito tumores menores na região abdominal. No final da operação, os médicos também aplicaram uma injeção com uma solução de quimioterapia para que fossem eliminadas possíveis células cancerígenas.
O vice-presidente disse que esta foi uma das cirurgias mais difíceis da história médica do Brasil. No dia 25 de janeiro, ele passou por uma cirurgia para a retirada de tumores na região do abdome que durou quase 18 horas. Esta operação foi a mais radical intervenção cirúrgica à qual Alencar foi submetido na luta contra o câncer.

“Estamos muito animados, seguros de que passamos por um teste rigoroso, um dos mais duros da história da própria cirurgia. Durou 18 horas. Só e anestesia, fiquei mais de 20 horas. Depois disseram que ia me dar uma amnésia e eu pensei que poderia deixar de pagar minhas contas. Mas não me deu amnésia e eu vou ter que pagar as contas”, afirmou Alencar, que demonstrou bom humor em diversos momentos (Entrevista concedida em 17/02/2009)

Na semana passada, (2010) aguardava o resultado de exames para decidir se disputaria uma vaga para o Senado por Minas Gerais pelo Partido Republicano (PR) ou se, caso fosse desaconselhado pelos médicos, investiria em umas férias levando netos e bisnetos para a “Bahia, onde tem uns mares maravilhosos” ou para “Natal (RN), que também é muito bonita”.
Os resultados não foram divulgados até o fechamento desta edição, mas, em entrevista exclusiva à Folha Universal, Alencar não escondeu o entusiasmo em poder voltar ao poder legislativo e falou em “saudades do Senado”.

“Tem que ser otimista. Costumo dizer que se Deus quiser me levar, Ele não precisa de câncer para isso. E, se não quiser, não há câncer que me leve. Então eu não tenho medo”, diz o vice-presidente. “Tenho que obedecer a orientação médica. Ainda que eu acredite mesmo em Deus, obedeço aos médicos. E não teria cabimento se eu fosse candidato não estando bem de saúde”, afirma, para emendar sorrindo: “Meu processo é de cura. Alguns médicos falam que estou curado.
Como eles são muito amigos eu fico pensando se não é só uma vontade deles. Mas costumo acreditar, porque estou me sentindo muito bem”, completa.

Alencar ainda faz sessões de quimioterapia para combater o câncer e, no ano passado, iniciou um tratamento experimental com remédios desenvolvidos por médicos norte-americanos.
A maneira como lida com a doença é considerada um exemplo por especialistas.
“O enfrentamento do câncer pode ser negativo, quando a pessoa não quer nem falar o nome da doença. E pode ser positivo, como no caso do vice-presidente. Quando o paciente vai atrás da cura, tem mais chances de alcançá-la.
Não só por pensar positivo, mas por procurar informações, realizar tratamentos de modo correto e buscar apoio com amigos e familiares”, explica a psicóloga Rita de Cassia Macieira, que preside a Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia.

Trata-se de uma associação que reúne especialistas em aconselhar pacientes. “Hoje, o câncer está se tornando uma doença com a qual as pessoas vivem por muitos anos e podem morrer até devido a outros motivos”, completa a especialista, ressaltando a importância do acompanhamento psicológico no processo de cura e na adaptação e aceitação às mudanças físicas provocadas pela quimioterapia.
Homenageado

Alencar não só parece ter superado a doença, como segue bastante ativo. No começo de março, ao ser homenageado por empresários e banqueiros no World Trade Center, importante centro empresarial de São Paulo, ele defendeu que o “Estado tem papel ‘indeletável’” e que as prioridades devem ser, na ordem, “educação, saúde, saneamento, energia e transportes”.
A todos os presentes, lembrou que “as empresas existem para o bem da comunidade, sejam privadas ou estatais” e defendeu que a “economia prospera quando se alcançam bens sociais”. Firme, cobrou responsabilidade social de alguns dos empresários mais poderosos do Brasil. Saiu aplaudido.

O vice-presidente é um exemplo de força de vontade. Nem todo mundo, porém, consegue lidar bem com a descoberta de uma doença tão grave quanto o câncer.
“Primeiro, a pessoa precisa se dar conta de que o processo é doloroso e que não é possível passar por uma experiência dessas sem sentir angústia e ansiedade.
É necessário se permitir sofrer e compreender que somos finitos e precisamos de ajuda”, diz Ana Cristina Waissmann, psicóloga do Hospital das Clínicas de São Paulo e responsável pelo Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional do Câncer.
“O paciente precisa estar ciente de que o ritmo de vida, os cuidados e as restrições
mudarão em decorrência do tratamento. Deve acreditar em si próprio e na equipe que o está tratando”, explica.
Ela lembra, porém, que não há uma receita pronta para a superação e que é preciso respeitar a forma como cada pessoa lida com a doença. “Cada um reage de um modo.

O câncer atinge locais diferentes e tem tratamentos e respostas individuais.
É muito importante saber que outras pessoas estão passando por situações semelhantes, porém sempre atento para o fato de que não existe uma forma certa ou errada de viver esse momento.
Cada um tem sua maneira e isso precisa ser respeitado”, diz.
“Política é prestar serviço”

Alencar está longe de pensar em aposentadoria, como revela nesta entrevista. Ele explica por que pretende disputar uma vaga no Senado Federal em vez de concorrer à eleição pelo governo em Minas Gerais. E ressalta que, mesmo antes de saber o resultado dos exames, sente-se muito bem.

1 – Sente-se bem de saúde para seguir na política?
Não teria cabimento se eu fosse candidato não estando bem de saúde. Vou aguardar os exames, mas o médico nunca vai dizer: “Você vai viver mais 2 mil dias ou então mais 2 dias.” Ninguém vai dizer isso. E eu estou me sentindo muito bem.
2 – O senhor cogitou disputar a eleição para governador de Minas Gerais? Por que concorrer ao Senado?
Eu prefiro a candidatura a um cargo no Legislativo. Tenho 78 anos. Quando terminar meu mandato este ano, terei 79. Pela experiência que tenho no Senado e na vice-presidência, posso ajudar mais no Legislativo. Além disso, sei que a agenda do Executivo é mais pesada. Então, para minha idade, eu teria condições perfeitas de cumprir uma agenda para o Legislativo. É muito mais honesto da minha parte disputar uma vaga no Senado.
3 – O que o motiva a seguir na vida pública?
Minha família quer que eu volte para casa, não são mais só os filhos, agora ainda há os netos e bisnetos. Mas política é uma oportunidade de prestar serviço. Tenho alguma experiência de vida no setor privado, nas entidades de classe, e posso ajudar.
4 – Como avalia as próximas eleições?
O Brasil esse ano vai assistir a uma eleição em que os candidatos devem ser a Dilma (Rousseff), o (José) Serra, o Ciro Gomes e a Marina Silva. É um time tão bom que não veremos uma campanha de baixo nível. Será de alto nível, de propostas, de trabalho, uma campanha séria. E isso é bom para que continuemos aperfeiçoando o regime democrático no Brasil.

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